Gritos mudos
Hoje cheguei a casa bastante cansado de toda esta correria diária, desta luta para ser melhor, mais rápido, mais eficiente, mais directo, mais explícito. Noto que este cansaço não é físico, mais valia ter corrido 100km seguidos debaixo de sol escaldante, num paredão em São Paulo. É um cansaço contido, acumulado, que não se vê, e deturpa a visão daquilo que é realmente importante. A cidade é assim, rápida, crua e injusta. Enquanto oiço Patrice em casa, esta música calma faz-me pensar no meu dia, com calma e posso agora tirar algumas elações, conclusões que para nada interessam, fazer algo que não interessa mas que acalma a alma e tranquiliza o coração. O resultado de tudo isto, é que se perdem bons momentos, o contacto com os amigos, aqueles que mais gostamos. Mas crescer é assim, é um processo de separação da criança que somos, da inocência. A adaptação às mudanças, ao superficial, às novas realidades.. enfim, se eu não saisse do colchão não renderia, como diz o outro, o mundo não pára, segue e avança. E eu com ele, neste ritmo alucinante, rápido imediato, com um grito mudo, tentando chamar à atenção, tentando fazer a diferença, tentando ser feliz... vou entregar-me à música de Patrice. Love é o nome da música, penso que é o que falta muitas vezes hoje em dia...